Boccati - Ed. 04 - Ano 01 - Verao 2018/19 - page 42

POR
CAMILE DE OLIVEIRA CALZA
Fé, dedicação e persistência. Essas são as principais
características do trabalho daquelas que, por vezes,
não aparecem, mas que são essenciais para o futuro
do vinho brasileiro. Desta vez, gostaria de destacar
as mulheres que dedicam todo o seu amor e esforço
no cultivo e colheita de uvas. Assim, estive em
Bento Gonçalves (RS) para conhecer três grandes
mulheres que são associadas e fornecedoras da
Vinícola Aurora: Ivani Marcolin Sonaglio (56), Salete
Maria Moroni Pozza (49) e Elizane Fátima Szefer
Riboldi (36).
Ao encontrá-las, percebi o apreço que têm pela
vitivinicultura, mesmo sendo um árduo trabalho. A
“lida”, como costumam chamar, inicia por volta das
seis horas da manhã, quando munidas de luvas e
tesouras, partem a pé, de trator ou de carro até os
vinhedos. As tarefas variam de acordo com a época
do ano, mas todas exigem muito cuidado para que
resultem em uvas de qualidade. Sabemos que há
grandes dificuldades nessa atividade devido às
mudanças climáticas, em um rápido temporal, por
exemplo, pode-se perder um ano inteiro de trabalho.
Por isso, as três mulheres destacam a coragem
que um vitivinicultor deve ter. Além do clima, ainda
existemmomentos de instabilidade no mercado, que
demandam a procura de outras alternativas, como a
família de Ivani, que também se dedica à produção
de chimias e geleias.
Durante o bate-papo descobri que todas construíram
sua vida ao redor das parreiras. Elizane nasceu em
meio à agricultura e há 19 anos, quando se casou,
passou a trabalhar na colheita de uvas. O mesmo
aconteceu com Ivani, que iniciou o trabalho ao
conhecer o esposo, há 39 anos. Já Salete, começou
ainda mais cedo, com 12 anos já estava em meio aos
vinhedos. Perguntei a elas sobre alguma situação
de preconceito durante suas trajetórias como
vitivinicultoras, e felizmente, disseram que nunca
sofreram com isso, “a não ser pelo fato de dirigir um
trator ou caminhão”, contou Salete com bom humor.
Como a maioria das mulheres, Ivani, Salete e
Elizane têm dupla jornada, também são donas de
casa e mães. Como mães, as questionei sobre o
futuro do jovem na vitivinicultura e confirmamos o
que já pensávamos: na maioria das vezes não há
participação. Porém, os avanços tecnológicos vêm
mudando esse cenário, “eles estão mais confiantes
sobre o futuro devido à modernização, que oferece
recursos que facilitam o trabalho no campo”, diz
Salete. O sentimento de que teremos mais jovens
vitivinicultores é positivo, dos três filhos de Ivani, por
exemplo, dois continuam na propriedade e a terceira
participa sempre que possível.
Depois de uma agradável tarde em meio aos
parreirais da Vinícola Aurora, posso dizer que
conheci três mulheres batalhadoras, de riso fácil e
que valorizam muito a família. Ivani, Salete e Elizane
têmorgulho emmostrar as delicadasmãos calejadas
e dizer que são vitivinicultoras, pois acreditam no
futuro de sua profissão. Como mulheres, defendem
a força feminina, seja em casa, nos vinhedos ou
onde nós (mulheres) desejarmos.
A delicadeza feminina em meio aos vinhedos
MULHERES DO VINHO
Everson Almeida
42
b o c c a t i . c om . b r
|
v e r ã o 2 0 1 8 - 2 0 1 9
1...,32,33,34,35,36,37,38,39,40,41 43,44,45,46,47,48
Powered by FlippingBook